País dá um passo decisivo pela natureza com o lançamento do primeiro fundo fiduciário nacional para a conservação e ação climática.
Num momento celebrado como histórico por ambientalistas, autoridades e parceiros de desenvolvimento, São Tomé e Príncipe lançou oficialmente o Fundo Fiduciário EcoTéla — um mecanismo inovador e estratégico destinado a garantir financiamento sustentável e contínuo para a conservação da biodiversidade e o combate às alterações climáticas no arquipélago. A cerimónia de lançamento decorreu a 21 de maio de 2025 no Palácio dos Congressos, reunindo decisores nacionais, representantes da sociedade civil, agências da ONU e organizações internacionais sob o lema “Promover a Natureza de São Tomé e Príncipe para um Futuro Azul e Verde Sustentável”.
Idealizado pela ONG BirdLife International com apoio técnico e financiamento de parceiros como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a União Europeia e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), o fundo visa mobilizar 1,5 milhões de euros até 2027 e atingir a meta de 10 milhões a médio prazo. Trata-se do primeiro fundo fiduciário para o clima criado no país, com o objetivo de assegurar financiamento estável e previsível para iniciativas de conservação em áreas prioritárias como o Parque Natural do Obô e outras reservas estratégicas.
Para o Presidente da República, Carlos Vila Nova, o lançamento do EcoTéla representa “uma aposta concreta na resiliência climática, na gestão sustentável dos nossos recursos naturais e no reforço das capacidades locais”. O Chefe de Estado sublinhou que o fundo será estruturado com base em princípios de transparência, equidade e inclusão, envolvendo o governo, as comunidades locais, o setor privado, a sociedade civil e parceiros internacionais.
A iniciativa também responde às recomendações da Conferência Internacional sobre Financiamento da Biodiversidade, realizada em março de 2024 na Ilha do Príncipe, com o apoio das Nações Unidas. “O EcoTéla materializa uma visão estratégica para um modelo de desenvolvimento que coloca a natureza e as pessoas no centro das soluções”, afirmou o Coordenador Residente das Nações Unidas, Eric Overvest. “Preservar a natureza é salvar o nosso futuro comum”, reforçou.
O fundo distingue-se dos tradicionais projetos de curto prazo por oferecer uma abordagem de longo prazo e maior estabilidade. Está concebido com duas vertentes complementares: um fundo de dotação, destinado a garantir recursos financeiros a longo prazo, e um fundo de desembolso direto para apoio a projetos locais. A sua governação contará com um mecanismo independente, assegurando uma gestão transparente, eficaz e credível.
O representante da BirdLife em São Tomé e Príncipe, Agostinho Fernandes, destacou que o EcoTéla é “ajustado à realidade são-tomense, inspirado nas melhores práticas internacionais e pensado para apoiar tanto as áreas protegidas como as iniciativas comunitárias com impacto direto na conservação e no bem-estar das populações locais”. Além disso, o fundo pretende impulsionar a mobilização de fontes de financiamento diversificadas e inovadoras, incluindo mecanismos como trocas de dívida por natureza, recentemente iniciadas através de um acordo entre São Tomé e Príncipe e Portugal.
O país, conhecido por possuir uma das biodiversidades mais ricas do mundo, procura agora consolidar a sua posição como líder regional em soluções integradas para desafios ambientais e climáticos. A Ilha do Príncipe já foi reconhecida como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, e estão em curso esforços para que parte da Ilha de São Tomé alcance a mesma distinção. Neste contexto, o EcoTéla constitui um instrumento vital para reforçar a capacidade institucional do país e promover um modelo de desenvolvimento inclusivo, resiliente e ancorado no conhecimento local.
Durante o fórum de dois dias que acompanhou o lançamento do fundo, diversos painéis abordaram temas como financiamento climático inovador, conservação liderada por comunidades e experiências de sucesso em outros países africanos. A troca de experiências e o diálogo multissetorial marcaram o evento como um espaço privilegiado de reflexão e compromisso.
“O lançamento do EcoTéla é mais do que um ponto de chegada; é um ponto de partida para um novo capítulo na história ambiental de São Tomé e Príncipe”, afirmou Eric Overvest. “É um investimento na justiça ambiental, na voz das comunidades e no legado que queremos deixar às gerações futuras.”
Com o Fundo EcoTéla, São Tomé e Príncipe envia ao mundo uma mensagem clara: proteger a natureza é não apenas uma responsabilidade ambiental, mas uma decisão estratégica para o futuro económico, social e climático do país. As Nações Unidas reiteram o seu compromisso em acompanhar este percurso, mobilizando saber, redes e recursos para transformar esta visão em realidade duradoura.
Entidades da ONU envolvidas nesta atividade
FAO
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura